quinta-feira, 22 de julho de 2010

separação ou arremedo de amor

"Eu amei,
e amei ai de mim muito mais do que devia amar
e chorei ao sentir que iria sofrer, e me desesperar

(...)Porque o amor, é a coisa mais triste, quando se desfaz"


meu colar fino, de outro 18k, partiu-se. e durante mto tempo ele ficou guardado, quase esquecido, na gaveta, a espera de um dia eu ver se ele tinha conserto. e foi naquele dia, justo naquele dia triste, porque cinzento, que meu antigo e querido colar foi remendado. tinha solução aquele rebentar, e eu não sabia. era só soldar. da primeira vez nem percebi o remendo. era como se novo em folha. em botão. e pude recolocar alguns pingentes adormecidos. e agora os carrego novamente junto ao peito, como da primeira vez, e nem percebo que foi remendado, apenas quando me lembro que um dia se quebrou por minha falta de atenção..esqueci de sua delicadeza, e sem perceber o deixei prender-se a um desnível qualquer do carrinho de criança para acudir a criança e na afobação do dia a dia, levantei o corpo, o fino colar não pôde suportar tamanha pressão. e desde então ele aguardou pacientemente seu conserto, se é que haveria, pois ele assim como eu também não sabia. a única coisa certa é que enquanto colar, já não serveria. não podia. mas finalmente, debaixo de uma chuva fria, e fina, o soldador rapidamente o remendou, juntou uma ponta na outra e sob intenso calor, desses de deixar o coração em chamas, fez o colar novamente fazer sentido. separadas, aquelas duas pontas quebradas, eram apenas um fio de outro, lindo e delicado, porém quebrado. agora, juntos novamente, passeiam no pescoço da moça, que ficou feliz novamente com o balançar dos velhos pingentes. saudade de mexer neles numa hora qualquer do dia distraído. de olhar para a bonequinha que carrega e lembar do dia em que a ganhou, quando estava grávida. e saudade também de surpreender-se, de ver a menina de verdade, a filha, brincando com ela mesma representada em ouro dizendo "essa sou eu, mamaãe?". aquele remendo enfim, que quase não se percebe, feito naquele dia, foi o de duas pontas que já estavam separadas há muito tempo. remendo feito no delicado e precioso fio que é uma relação de amor. uma conversa. não "a" conversa, pois talvez essa nem exista. mas uma, entre muitas, entre várias, porém "uma" importante, soldadora, capaz de dar sentido novamente a suas vidas já há muito separadas, porque deixaram de se ver, de se tocar...

juntas estão agora, essas duas vidas, remendadas pela separação, num amor único e verdadeiro.

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