segunda-feira, 28 de abril de 2008

o tempo da travessia

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".
(Fernando Pessoa)

domingo, 13 de abril de 2008

(Re) encontro de mim

Reencontrar a menina perdida...um novo susto. Menina de fita multicores inventada no cabelo. Menina de olhar sincero e sorriso espontâneo. Essa menina singela tem suas dores....talvez não tenha uma boneca para brincar ou um pai para abraçar. Mas que beleza tem ela! As dores do mundo não emudeceram sua alegria. Dá pra ver em seu olhar que a infância ainda habita. Quero reencontrar a alegria que ficou muda em mim...sinal que as dores começaram a soar mais baixo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Desejo

...vc deitado ao meu lado, mas estou sozinha.

Das lágrimas amanhecerá o rio.

Última música de hj, pra depurar mais um pouco a dor - ou o próprio amor? Nas últimas linhas da canção, meu desejo.

A Lágrima e o Rio
Milton Nascimento
Composição: Wilson Lopes / Milton Nascimento / Ricardo Nazar


Quando amanheceu toquei meu braço, no que?
E me desentendi...
Porque só eu, ali?
Gritam vizinhos
Água no chão, eu vi,
Que história é essa, cadê você?

Fui correndo à porta,
O rio estava ali
Um barranco sumiu
Saí gritando
Eu, minhas lágrimas e o rio
Os três num só
E as horas corriam
Que nem sei

Ó rio,
Me leva contigo e o meu coração
Éramos dois e não quero ser um
E desordenadamente, o barranco, as lágrimas
Lutei contra a força, perdi
Foi que o tempo arrastado em corredeira
Carregou meu amor, meu corpo também foi

Voltou enfim, nas águas da fonte mais pura
Das lágrimas que chorei por nós
As lágrimas, derramei demais
Que um rio amanheceu de nós
E um rio amanheceu...
Um rio amanheceu por nós

Sozinha eu vou, sei pra onde vou...

Mais uma música...

(...)

Vou, mas quero ir sabendo
Se não vou ter outro amor
E pelas tardes mais frias
Eu vou deixar minha dor
Minha crença morrendo
E minha vida nascendo
Eu vou achar a alegria, eu vou achar
Na luz de um dia nascendo
Eu vou deixar minha dor imensa
Eu vou achar meu carinho

(Crença, Milton Nascimento
Composição: Márcio Borges - Milton Nascimento)

...para que nunca digas...

Toda a manifestação do meu amor, te dedico, agora, pra viver o limite dessa dor, explorar o sentimento que corrói, que machuca, tamanha confusão de sinais que apreendo e não aprendo desse mundo, do mundo que tu me trazes. Te dedico todo o meu amor magoado para que um dia ele fique só na lembrança guardado como um bem querer bem datado.
Amor, meu grande amor, te dedico mais uma canção, mais algumas muitas lágrimas, mais tempo da minha atenção desviada, desvairada. Dedico-te meu nó na garganta, minhas voltas nos ônibus olhando pela janela a paisagem que passa, deixando escorrer saudade e tristeza pelo rosto trasfigurado pela dor. Te dedico cada tormento, cada lembrança, cada um, pouco a pouco, os lindos pedaços de nossa história.
Só assim eles terão destino fora de mim.
Te dedico, Márcio, minha ainda famigerada esperança. Te dedico, pois, o meu luto, de algo prestes a se transformar. Com aquela leve lucidez que nos faz olhar pra frente, mesmo com a implacável presença do passado, te dedico e dedicarei sempre o meu amor, enquanto houver. Para que nunca digas que não sabia o quão grande um dia foi esse sentimento por você.


A Sede do Peixe (Para o que não tem solução)
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento / Márcio Borges


Para o que o suor não me deu
O fogo do amor ensinou
Ser o barro embaixo do sol
Ser chuva lavrando sertão
Qual aleijadinho de sabará
E a semente das bananas

Para o que não tem solução
A sede do peixe ensinou
Não me vale a água do mar
Nem vinho, nem glória, navio
Nem o sal da língua que beija o frio
Nem ao menos toda raiva

Para o que não tem mais razão
A calma do louco ensinou
A dizer nada

Para o que não tem mais nada
A calma do louco ensinou
A dizer razão

Outro querer (outra forma de amar)

Outro lugar
Milton Nascimento
Composição: Elder Costa


Cê sabe que as canções são todas feitas pra você
E vivo porque acredito nesse nosso doido amor
Não vê que ta errado, tá errado me querer quando convém
E se eu não estou enganado acho que você me ama também

O dia amanheceu chovendo e a saudade me contem
O céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem
Vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir
E eu já to molhado, to molhado de esperar você aqui

Amor eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar
Andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amarIgual a um beija-flor, que beija-flor,
De flor em flor eu quis beijar
Por isso não demora que a historia passa e pode me levar

E eu não quero ir, não posso ir pra lado algum
Enquanto não voltar
Não quero que isso aqui dentro de mim
Vá embora e tome outro lugar
Talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar
Amor, meu grande amor, estou sentindo
Que esta chegando a hora de dormir

quinta-feira, 10 de abril de 2008

ALL STAR AZUL

Na noite em que nos separamos, ele comprou um all star azul piscina. Se tivessem me contado, eu não acreditaria. Mas eu vi, e não acreditei. E o pior, ele estava feliz com seu novo par de tênis. Eu, perplexa. Sem exagero. Eu juraria, eu gritaria, eu colocaria minha mão no fogo que ele nunca usaria aquilo. Mas ele não apenas usou, como comprou e sorriu. E eu, perplexa. Como assim?! Ta falando sério? Vc vai ficar mesmo com esse tênis? Comprou?! Mas...mas...ele não combina com você...não...não combina...combina?? É sério isso? Vc gostou? Gostou? E vai usar??

Eu não conseguia entender. Não era brincadeira. Ele já tinha colocado o tênis no pé, não tirou mais a noite toda. E ria tranquilamente. Ele estava tranqüilo com o azul piscina, eu é que não estava. Fiquei observando o resto da noite o contexto. Eu o olhava e não o reconhecia. O tênis só deu cor ao que estava acontecendo. Ali eu pensei, “cara, agora complicou...eu podia jurar que ele nunca usaria um troço desses. Agora...agora a coisa ta preta. Ou melhor, azul piscina”.

Fiquei realmente triste. Talvez ele não faça idéia de como aquilo me abalou. Mas chegando em casa, as coisas ficaram mais claras. Ele, pela primeira vez, falou em separação. Por quanto tempo havia ensaiado aquela cena, hoje me pergunto? Naquela noite ele já sabia que iria sair de casa? Sim, não foi nenhuma discussão que gerou a conversa. Ele foi falando, calmamente, enquanto deixava os pés nus novamente. Enquanto ele falava, eu olhava o novo par de tênis ali, pousado no chão. O caminho é de vocês agora. Eu não faço mais parte. Não foi prazer nenhum em conhecê-lo, vão com Deus, ele gosta desse azul agora.

Como pode? Ele e seu novo par de tênis? Eu estava certa, minha angústia ao vê-lo realmente feliz com seu novo all star tinha fundamento. Ele era outro, agora usaria aquele tom de azul. Nos separamos mesmo aquela noite e até hoje eu não entendo como ele foi gostar daquele all star.

It´s all.


09/03/08

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O que vale é o que a sorte escreveu...

Só Deus é Quem Sabe
Mart'nália
Composição: Indisponível

Eu não sei guardar ressentimentos
Eu hoje lembro com ternura cada momento
Promessas de nós dois naqueles dias
O tempo transformou-as em palavras vazias
Às vezes a paixão nos traiu
Às vezes foi a voz que mentiu
Mas nada disso importa
O que vale é o que a sorte escreveu
Só Deus é quem sabe do amor
Eu não sei nada
Só sei que a vida nos prepara cada cilada
E é inútil se tentar fugir da longa estrada


Morte. Luto. Vida.


Engraçado como tem sido mais fácil me expressar pelas letras das músicas. Não quero nada falar, só depurar o vazio. E escutar, respirar, pisar o chão, sentir a areia nas mãos, o sol na face. Acho que é mais ou menos procurar o sentido de árvore (manoel de barros), pra flores novamente nascerem com sementes de bons frutos.
Por enquanto, me proponho o exercício cotidiano do esquecimento e espero ansiosa a manhã em que não me lembre mais de esquecer. Lembranças são afastadas com profundos suspiros, que levam embora também gotas de dor. E dão lugar a tímidos e delicados sorrisos, que por isso inusitadamente sinceros. Como agora.

"Quem sabe soletrar adeus, sem lágrimas nenhuma dor?" (Novamente, Fred Martins)

É isso.