Quando suas mãos faziam cócegas pra eu adormecer, seus dedos deslizando nas minhas costas traziam o sono e amenizavam a falta da minha mãe, que chegava tarde do trabalho. Uma das melhores lembranças que tenho de minha vó é de nossa cumplicidade quando eu pequena, por volta dos meus cinco anos, tinha uma camisola muito parecida com a dela. Colocávamos a nossa roupa de dormir, que pra mim eram iguais, apenas de tamanhos diferentes, e íamos pro nosso ritual: eu me deitava em seu colo, levantava a camisola pra deixar as costas lires e lá ia ela, pacientemente, fazer cosquinha até eu dormir. Por vezes eu tinha uma segunda alegria, quando dava a sorte de estar acordada pra ver minha mãe chegar e brincava de fingir que já estava dormindo.
Hoje eu passo essa mania pra minha Maitê, ela adora adormecer com cosquinha...graças à bisa, que ensinou a delicadeza, a paciência e o jeito certo de fazer. Como uma relíquia de família, não passo nenhum objeto, mas um gesto de amor, que minha vó me ensinou.
Acho mesmo que ela dizia com as mãos, posto que não era de muitas palavras. Nem de muitos sorrisos. Mas hoje, com sua morte, sinto falta até daqueles mal humorados, mas sempre de personalidade e delicados.
Avó, ensina por ser avó. Como se por trás de cada palavra estivesse o ensinamento "entra e abre"... ensinamento que fala sobre vivenciar para abrir as portas ... e não o contrário.
Hoje a casa está triste, você faz falta, vozinha. Muita falta.
Vai, a neta, difícil disse: puxa i ferrolho de pau da porta, entra e abre. Boa passagem, bom descanso. Vá em paz. Deus te abençoe.
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